1- Como surgiu a idéia de iniciar com as atividades barulhentas?
AVN: Grande amigo Marcelo, primeiramente gostaria de agradecer pelo apoio e espaço cedido no seu zine, para divulgarmos nosso trabalho e debatermos um pouco sobre nossos desejos. Os zines são fundamentais para o fortalecimento do underground, não importa o formato, todos têm suas potencialidades. Bem, respondendo a sua pergunta, por volta da década de 1990 tive uma experiência, no underground D.I.Y, com um projeto de barulho, o Genital Tumour (brutalnoisegore) que durou até 2002, acho. Também cheguei a editar o zine Trauma, que teve 3 ou 4 edições, cujas publicações eram voltadas para o cenário noise, grind, gore, crust etc. Andei parado com os projetos e zines por um bom tempo em função do trabalho, dos estudos e da família. Quanto ao AVN, o projeto surgiu por volta de 2013, com a intenção de criar algo em torno de um harsh noise anárquico, minimalista, cru e direto, que soasse extremamente agressivo e sujo como muitas bandas de noisecore que gostamos. Sempre tive o desejo de criar um projeto de harsh noise, então juntamos eu e meu filho, na época com 14 anos, e formamos o AVN.
2- Que tipo de sonoridade produz?
AVN: De forma mais representativa, digamos, que buscamos experiências catatônicas com paredes de ruídos geradas de diferentes ferramentas. O que pode o corpo e o ruído como experiência espontânea?
3- Qual a sua opinião em relação à "cena" noise nacional?
AVN: Bom, geralmente torço o nariz com relação a essa palavrinha “cena”, pois existe tanta “panelinha”, individualismo e policiamento no interior do tal noise que tenho minhas dúvidas, hehehehe. Por outro lado, penso que persiste uma galera produzindo e correndo atrás de forma simples, sincera e honesta. Resistem muitos projetos, zines, selos, têm muita coisa sendo produzida aqui no Brasil, material bom, basta ter vontade e pesquisar. Particularmente, estou muito mais ligado ao cenário punk/metal extremo que ao noise e acho que essa galera deveria expandir mais seus ouvidos para o material noise kkkkkk. Não ligo para “cenas” e blábláblás, escuto o que me afeta de alguma forma e pronto.
4- Cite algumas influências? Em quem se inspira para fazer barulho?
AVN: Uma diversidade de afetações, tudo que me atravessa de alguma forma me compõe e me decompõe constantemente, sou turbilhões de explosões, mortes e vidas constantes. Mudo a todo instante. O que leio, o que escuto, o que vejo etc. O A.V.N não se desloca disso de maneira alguma, portanto, é cinema underground, cinema experimental, literatura, filosofia, anarquismo, punk, noisecore, crust, brutal black metal, brutal death metal, grindcore, grindgore, harsh noise, cyberpunk, o caos cotidiano, andar por aí, as cidades, o caos urbano, os medos, o terror, desejo, desejos, hehehe.
5- Como é o processo de produção dos seus barulhos? Que tipo de equipamento utiliza?
AVN: Produzimos com tudo que se possa produzir (kkkkkk). Não espere que ninguém faça por você, faça você mesmo, as possibilidades são enormes desde que você resista as imposições, aos enquadramentos, aos padrões, ou seja, às capturas. Textos, silêncio, pedais variados, ferramentas, microfones de contato, materiais reciclados, sucatas, colagens sonoras, enfim, muita improvisação e diferentes tentativas de experimentações. Tudo de forma simples, direta e sem grandes aparatos tecnológicos. Gravamos no computador, no celular etc.
6- O que seria necessário para o noise brasileiro ter reconhecimento no exterior?
AVN: Particularmente nada, ser reconhecido por quem? Ser reconhecido para que? Tente criar e esqueça os padrões de reconhecimento da polícia. Não estou nem aí para isso, se alguém menospreza é porque não respeita as diferenças, as multiplicidades. Penso que o underground D.I.Y não tem nada a ver com isso, o mainstream talvez sim, então não ligo.
7- Cite os materiais já lançados e os que estão pra sair?
AVN:
- Demo tape – Pesadelo, medo e agonia”
- Demo Cd-r - “Solidão Ativa”
- Split cd-r – Dom/AVN
- Split Tape – AVN/Ecoute la Merde
- Cd-r – Power of harsh: 6 ways of extreme sick noise
- Cd-r – humanicidio com AVN/Atrofia Cerebral/Audicion Irritable/S.D.O.
- Cd-r pro - V.A “Tortura sonora compulsiva”
- Cd-r – Split live AVN/Menstruation
- Split Tape – AVN/7MS
– Split live AVN/God Pussy
- Ep – “Delírio persecutório”
- Tape - box caixão D.I.Y – AVN/W.W?/God Pussy/Caos Sonoro
- Split AVN/Noise Machine
- Split cdr-pro AVN/D.S.O
- Split cdr AVN/Natural Nihilismo
- Split 7’ EP AVN/7MS
- Split AVN/SSSS
- V.A. Brasilian HNW compilation vol.I
- V.A. Political Prisoner: Mumia Abu-Jamal
- V.A Dawn Of The Noise - A Tribute To George A. Romero
- V.A Pela liberdade de Rafael Braga
Próximo lançamento: Split AVN/Lamúria.
8- Já se apresentou ao vivo? Se sim, qual foi a sensação? Se não, pretende algum dia fazer isso?
AVN: Sim, tocamos várias vezes ao vivo e foi desastroso kkkkkkk. Harsh noise é tipo “espanta bolinho” e pode propiciar sensações deliciosas de ódio, raiva, nojo, alegria, tristeza, espanto, espasmos, catarse etc.
9- Que albums levaria para passar uma tarde na anechoic chamber?
AVN: I.N.R.I do Sarcófago, Under the Sign of the Black Mark do Bathory, Possessed do Venom e Senzuri Champion do Gerogerigegege.
10- Últimas palavras. Deixe o seu recado para o leitor do Barulheira Extrema Webzine.
AVN: O que pode o noise?